O sistema de exclusão nos eixos de expansão periférica da RMBH

Linhas de Análise para Leitura do Lugar

LINHAS DE ANÁLISE DESCRIÇÃO E OBJETIVO
PRESSÃO SOCIOECONÔMICA
no
território
  • caracterização de valores por m2 dos imóveis ao longo do tempo, por área.
  • análise do impacto da valorização do bairro e da cidade no tempo, mediante observação temporal das alterações nos valores do metro quadrado nos bairros do entorno.

  • Trata-se de entender a pressão socioeconômico não a partir dos agentes do mercado (proprietário de terra, imobiliárias, incorporadores, loteadores, etc.), mas a partir da percepção dos moradores.
    VULNERABILIDADE
    no
    território
  • caracterização das condições de vulnerabilidade dos moradores.
  • análise do quadro de vulnerabilidade informacional (acesso à informação), programática (acesso aos serviços urbanos do Estado) e prática (ser capaz de pensar e agir) no qual os moradores se inserem ao enfrentar eventos adversos.

  • Trata-se de compreender a insegurança habitacional a partir das distintas possibilidades de vulnerabilidade nas quais os moradores se inserem ao lutar pelo direito de existir.
    PERCURSOS
    no
    território
  • caracterização das distâncias urbanas que fragmentam territórios.
  • análise das distâncias das casas/moradores ao que se quer acessar, mobilidade (barreiras de mobilidade); mobilidade interna do bairro (ônibus, carro, bicicleta, a pé) e qualidade dos percursos (arborização, qualidade das vias, iluminação, menores distâncias).

  • Trata-se de visibilizar os percursos não tradicionalmente localizados e tipificados.
    EQUIPAMENTOS-SERVIÇOS
    no
    território
  • caracterização da educação, saúde, esporte e lazer, cultura, comércio no território.
  • análise da oferta (superestrutura) do território de equipamentos (educação, saúde, esporte e lazer, cultura), de comércio (principalmente no que se refere a bens de subsistência, como mercados, padarias, quitandas, hortifrútis) e de serviços que amparem as atividades cotidianas. No caso da inexistência desses itens, analisar quais são as “âncoras” do território (onde [e se] consome; onde [e se] tem lazer; onde recorre em casos de doenças; etc.). [1]

  • Trata-se de compreender a superestrutura pela percepção da relação do morador com ela, e não a partir do local onde a sua oferta está.
    AÇÕES
    no
    território
  • caracterização da ocupação do espaço público e coletivo.
  • análise da ação do morador no território, as interações das pessoas com o espaço construído, articulando-as aos usos, em caráter qualitativo; a ocupação do espaço público, se há ou não permanência e quais são as áreas que a comportam; como se dão os fluxos e que relação estes mantêm com os usos e atributos do local.

  • Trata-se de perceber a ocupação qualificada do espaço público e coletivo, analisando a ação do morador no território e as interações das pessoas com o espaço construído, as áreas vazias e as ruas.
    FISSURAS
    no
    território
  • caracterização da associação dos moradores a grupos coletivos organizados, sem a mediação do Estado.
  • análise da reação ativa dos moradores diante de eventos adversos, a presença de espaços de uso e manutenção coletivos (hortas, espaços de reunião, etc.) e quem os organiza (movimento social, associação de moradores, etc.); conquistas ou benefícios alcançados.

  • Trata-se de compreender a vinculação do morador com algum grupo organizado, objetivos, dificuldades, avanços, e a relação com o Estado, Igreja, instituições ou entidades, etc.
    PROPRIEDADE
    no
    território
  • caracterização da relação de propriedade do imóvel (terra/casa) com o morador. [2]
  • análise dos processos de controle e comercialização das casas e seus agentes; conceitos de propriedade, meios de aquisição praticados, processos informais envolvidos, comercialização via imobiliárias; proprietários legais da área; incorporadores locais.

  • Trata-se de escapar das escalas regionais ou mapas censitários e compreender a relação de propriedade do imóvel (terra/casa) estabelecida pelo morador.
    CAPACIDADE URBANA
    do
    território
  • caracterização do abastecimento de água, esgotamento sanitário, drenagem pluvial, pavimentação, coleta de lixo, sistema viário e energia elétrica.
  • análise da capacidade urbana (mesoestrutura) da área em assentar casas, presença/ausência e quais os meios/agentes de produção (poder público/autoconstrução), como são adquiridos os materiais e as formas de financiá-los.

  • Trata-se de se aproximar da escala do lugar, ampliada pela espacialização das observações dos moradores em relação, sobretudo, às restrições de acesso aos serviços urbanos, entendendo que estes apresentam distribuição desigual nos territórios e estão articulados às características físico-ambientais, ao comportamento ambiental e às ações no território.
    CAPACIDADE NATURAL
    do
    território
  • caracterização das condições topográficas e geológicas da área.
  • análise da capacidade tísica (infraestrutura) do território em assentar casas; relevo: acidentado, vale, crista, plano, natureza (relevo, rios, matas, voçorocas, etc.).

  • Trata-se de compreender as condições topográficas e geológicas do território (infraestrutura) com ênfase na análise do olhar do morador sobre a capacidade do lugar para receber casas, serviços, instituições e ações.
    ARTICULAÇÕES
    do
    território
  • caracterização da articulação do território com a cidade.
  • análise da continuidade tipológica e morfológica do território em relação à mancha urbana: contínuo integrado (território inserido na mancha urbana sem interferências das barreiras do meio tísico ou antrópico), contínuo desarticulado (território inserido na mancha urbana que apresenta interferências das barreiras tísicas ou antrópicas), descontínuo (território visivelmente fragmentado da mancha urbana).

  • Trata-se de identificar a continuidade/descontinuidade morfológica do território a partir das informações dadas pelos moradores em razão das visitas a outros bairros e a relação com a capital, a região metropolitana e outros lugares da cidade.
    LÓGICA DE OCUPAÇÃO
    do
    território
  • caracterização da ocupação do território.
  • análise da lógica de ocupação do território ao longo do tempo: aglomerado (sem planejamento); parcelamento-loteamento; parcelamento-ocupação; conjunto habitacional.

  • Trata-se de conhecer o lugar pelo olhar do morador sobre partes novas/antigas do bairro e direção do crescimento ou expansão do bairro.
    ATRIBUTOS
    do
    território
  • caracterização dos atributos do espaço construído do território.
  • análise da construção do território (tamanho das vias, tamanho dos lotes, número de famílias, tipo de edificação, materiais, adensamento).

  • Trata-se de incorporar elementos da microescala e da arquitetura que caracterizam o espaço construído no lugar: descrição qualificada das ruas, dos prédios e das casas, tamanho das casas, número de moradores. A inclusão de atributos qualificados permite desconstruir o olhar externo da tipificação arquitetônica e dar visibilidade ao olhar do morador que estrutura e dá sentido ao lugar.
    LINHAS DE SEPARAÇÃO
    do
    território
  • caracterização das demarcações naturais, construídas ou simbólicas que fragmentam territórios.
  • análise das separações tísicas das casas e do território por cursos d’água e condições topográficas e antrópicas (sistema viário e controles de acesso e circulação, muros, cercas, câmeras, grades, etc.).

  • Trata-se de mapear barreiras, incluindo meios de qualificar a narrativa do morador em relação ao modo como estas dificultam deslocamentos, interações e atividades.
    GRANDES PROJETOS URBANOS (GPUs)
    do
    território
  • caracterização da relação do lugar com os GPUs.
  • análise do impacto dos GPUs (obras de mobilidade, grandes equipamentos, requalificações urbanas e condomínios) no cotidiano e no território; de que forma afetam seus cotidianos (em relação ao aluguel, rotina de compras, mobilidade urbana, etc.)

  • Trata-se de incorporar as rupturas territoriais provocadas por GPUs: conhecimento, descrição qualificada sobre os projetos e avaliação destes.
    Notas: [1] Os conceitos de Infraestrutura, Mesoestrutura e Superestrutura referem-se, respectivamente, ao suporte físico dado pelo sistema geológico, aos sistemas básicos de funcionamento, incluindo arruamento, rede elétrica, rede de água, etc., e ao conjunto das estruturas antrópicas finalísticas, tais como, moradia, escola, indústria, etc., elaborados por Carvalho (1999). O Mapa de Zoneamento Geotécnico do município de Belo Horizonte também foi utilizado. [2] Trata-se de outras possíveis relações (e direitos) de propriedade, não juridicamente formais, mas vivenciadas e sustentadas por novos padrões, usos dos espaços, detenção de direitos, acordos, necessidades e oportunidades, forças econômicas, medidas regulatórias, instrumentos, contratos, entre outros, assim colocado por Blandy, Bright e Nield (2018). Ou, acatando Locke, trata-se da relação de propriedade em razão da percepção do morador sobre aquilo que é dele próprio.
    Referências: PRAXIS-EA/UFMG. Territórios populares: reestruturação territorial, desigualdades e resistências nas metrópoles brasileiras. 2019. Disponível em: <https://drive.google.com/file/d/1J0ih_gYE7QQe9dgCLe7YwVZkDxU0Nfxy/view>. Acesso em: 10 jun. 2020. BLANDY, S.; BRIGHT, S.; NIELD, S. The dynamics of enduring property relationships in land. The Modern Law Review, n. 81, p. 85-113, 2018. CARVALHO, E. T. de. Geologia urbana para todos: uma visão de Belo Horizonte. Belo Horizonte: ETC, 1999.
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