Outra lógica da prática para moradia e cidade: o direito de existir

Abordagens

Pressupostos

Moradia é o lugar da existência compartilhada no tempo e no espaço; esta proposta trata do lugar onde estão moradores em risco de violações dos direitos humanos e constitucionais.

Prática é o lugar da dialética dos traços estruturais da sociedade, das estratégias que os indivíduos acionam para agir e dos produtos objetivados e incorporados, historicamente construídos.
[ref: BOURDIEU, P. O senso prático. Petrópolis: Vozes, 2009].

Outra lógica da prática refere-se a outras estratégias de ação evocadas diante daquilo que é próprio de cada um para confrontar a lógica da prática vigente de produção da cidade neoliberal e o direito de existir.
[ref: MORADO NASCIMENTO, D. O sistema de exclusão na cidade neoliberal brasileira. Marília: Lutas Anticapital, 2020].

Direito de existir é a necessidade de livremente pensarmos e agirmos na cidade a partir das diferenças que nos constituem, anterior ao direito de acesso à moradia e à cidade.
[ref: MORADO NASCIMENTO, D. O sistema de exclusão na cidade neoliberal brasileira. Marília: Lutas Anticapital, 2020].

Cidade neoliberal é espaço de concentração, da população, dos instrumentos de produção, do capital, dos prazeres, das necessidades e das relações de trabalho que serve aos interesses da associação Estado-mercado, ou seja, quando os núcleos dominantes do Estado são tomados por corporações globais, pela tecnocracia administradora das entidades financeiras e pelas instituições intergovernamentais do capital financeiro.
[ref: MARX, K.; ENGELS, F. A ideologia alemã. São Paulo: Martins Fontes, 2001; QUIJANO, A. Colonialidade, poder, globalização e democracia. Novos Rumos, ano 17, n. 37, p. 4-28, 2002].

Leitura do lugar é proposta teórico-metodológica que pretende desencriptar a cidade por meio de linhas de análise ao entender o território a partir do olhar de quem mora e ocupa, de quem cotidianamente vivencia e experimenta o espaço, fazendo-se emergir uma possível disrupção das valorizadas narrativas institucionais, técnicas e acadêmicas vigentes, própria do diagnóstico urbano.
[ref: MORADO NASCIMENTO, D.; FREITAS, D. M. de; NASCIMENTO, G. da C. Outro jogo de linguagem como proposta teórico-metodológica da leitura do lugar. Revista de Geografia e Ordenamento do Território, n. 24, p. 135-159, 2022].

Transdisciplinaridade significa entender a produção da moradia e da cidade com os moradores, se deixar transformar com essa produção e transformar a produção; incorporar o conhecimento do Outro com o Outro, aquele que está fora da ciência, do conhecido, do previsível.
[ref: MORADO NASCIMENTO, D. Pensar a cidade sob a ótica da transdisciplinaridade. In: LOPES, M. S. B. (org.) Natureza Política: rupturas, aproximações e figurações possíveis. Belo Horizonte: Agência de Iniciativas Cidadãs, 2021. p.163-185].

Perguntas de pesquisa

Quais estratégias e produtos contemporâneos são possíveis de se construir com os moradores em busca de outra lógica da prática referente à moradia e à cidade que possam ampliar e assegurar o direito de existir?

Linguagem de padrões
Seria possível reconhecer na prática da autoconstrução uma linguagem de padrões gerada coletiva e inconscientemente sobre como construir espaços vivos, dotados de uma qualidade sem nome?

Arquitetura-Suporte
Quais as diferenças constituintes das moradias [auto]construídas potencialmente indicativas para a construção de processos compartilhados de comunicação e representação do projeto e da construção da moradia contemporânea?

Ecologia política da urbanização
Em que grau as ações de enfrentamento à injustiça ambiental e climática incorporam-se aos instrumentos de planejamento e políticas públicas de produção e requalificação da moradia e da cidade?

Leitura do lugar
Como avançar nas abordagens de análise urbana e da Leitura do lugar a partir do Outro, articulando-as com a prática de planejamento e projeto urbano-arquitetônico?

Intervenções mnemônicas
O que o lugar revela como memória enquanto locus da identidade individual e coletiva e escala da vida cotidiana?

Territórios minerários
Em que medida o modelo de planejamento urbanístico neoliberal de reassentamentos coletivos, em contextos de reparação de danos socioambientais, impede a retomada dos modos de vida dos moradores atingidos pelas atividades minerárias?