A gente não constrói só casa

Vídeo produzido pelo Observatório das Metrópoles sobre experiências urbanas de produção da moradia por autogestão coletiva, no qual se faz uma reflexão crítica sobre as disputas em torno da produção e da apropriação da cidade no Brasil.

O roteiro e a direção são da professora Luciana Lago. No caso da direção, Luciana divide com Priscilla Xavier, que também é responsável pela câmera e edição. A trilha sonora é de autoria de Isadora Medella.

 

 

Leilão pela compra de uma das “Torres Gêmeas” em BH

Justiça aceita proposta de R$ 2,6 milhões oferecida em leilão pela compra de uma das “Torres Gêmeas” em BH

 

O juiz da 2ª Vara Empresarial de Belo Horizonte, Sálvio Chaves, aceitou, nesta quinta-feira (6), a proposta de R$ 2,6 milhões oferecida em leilão por um dos prédios do residencial Saint Martin, conhecido como Torres Gêmeas, que faliu em 1996. O prédio e outra torre de apartamentos, localizados no bairro Santa Tereza, região Leste da capital, fazem parte dos bens da construtora cujos valores apurados em leilão servirão para pagar as dívidas da empresa falida.

O leilão chegou a ser realizado duas vezes sem que houvesse interessados e foi cancelado uma vez por falta de condições para sua realização. Em todas as ocasiões, foi necessário um esquema especial de segurança para garantir a realização dos leilões, que foram acompanhados por manifestação dos representantes dos compradores e dos moradores que ocuparam o prédio inacabado, ambos os grupos contrários ao leilão do imóvel e interessados em tomar posse dos apartamentos. De acordo com a lei, as primeiras dívidas a serem pagas com o valor apurado no leilão são as trabalhistas.

No último leilão, realizado em 31 de maio, após apregoado o lance mínimo referente à avaliação de R$ 3.031.642, sem que houvesse lance, foi proposto ao leiloeiro o valor de R$ 2,6 milhões, em duas parcelas. No último dia 14 de junho, foi publicada a decisão do juiz que homologa a proposta e determina o depósito da primeira parcela, equivalente a 50% do valor proposto, e o depósito dos 50% restantes em 30 dias.

Antes de falir, a construtora abandonou as obras do residencial San Martin na fase de acabamento, causando prejuízo a vários proprietários. Depois de meses abandonados e apesar da solicitação da síndica por reforço policial na porta da construção, os prédios, de 14 andares cada um, foram invadidos por dezenas de famílias, o que impedia que os imóveis fossem leiloados para pagamento dos credores (trabalhadores, compradores e outros).

Um incêndio ocorrido no último ano causou a desocupação de um dos prédios, que foi bloqueado para impedir a volta das famílias. Isso propiciou a realização do leilão, mas a outra torre permanece ocupada.

 

Fonte: O Tempo online

Diálogos – Uma ideia para Belo Horizonte

Palestra com Arquitetos David Barragán e Pascual Gangotena, Equador

Palestra com Arquitetos David Barragán e Pascual Gangotena, Equador

Data: 14/06, às 20 horas
Local: Departamento de Arquitetura e Urbanismo da PUC/MG
Organização: DA PUC/MG

http://www.albordearq.com/

“Realengo, Aquele Desabafo!”

Apresentamos ontem na Escola de Arquitetura o documentário de João Ramos de Almeida sobre o Orçamento Participativo em Belo Horizonte e em seguida este video produzido pela equipe de pesquisadores do Observatório das Metrópoles que desenvolve estudos sobre as formas de provisão de moradia nas grandes cidades. O video “Realengo, Aquele Desabafo” conta com depoimentos de moradores dos conjutos habitacionais Vivendas do Ipê Branco e Vivendas do Ipê Amarelo, no bairro de Realengo, no Rio de Janeiro.

Esse e outros videos estão disponíveis no site do Observatório das Metrópoles.

PBH anuncia subdivisão das regionais em 40 unidades para melhorar planejamento urbano

A Prefeitura de Belo Horizonte anuncia estratégia para tentar traçar o planejamento urbano da cidade até 2030. Aos 113 anos, a capital enfrenta graves problemas de mobilidade, adensamento populacional desordenado e poluição ambiental, entre tantos outros que prejudicam a qualidade de vida da população. Para enfrentar as velhas mazelas, a prefeitura vai dividir as nove regionais em 40 sub-regiões e propõe levar para dentro da administração municipal mais 4,5 mil representantes de todas as classes sociais. Eles terão a missão de apontar, voluntariamente, demandas e prioridades de investimento. Notícia que especialistas do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB) recebem com reservas, alegando que os reflexos do crescimento da cidade em setores quase em colapso, como o trânsito, estariam minimizados se medidas de contenção estivessem sendo adotadas desde o início da atual administração.

O plano será apresentado aos vereadores em reunião na prefeitura, na manhã desta quinta-feira. Em entrevista exclusiva ao Estado de Minas, o prefeito Marcio Lacerda disse que as sub-regiões foram criadas de acordo com as diversidades das regionais, levando em conta critérios sociais e a renda dos seus moradores. Cada regional terá quatro ou cinco sub-regiões. “Na Centro-Sul, por exemplo, estão inseridos o Hipercentro e os aglomerados. É impossível juntar tudo em uma discussão única. Os problemas são completamente diferentes”, ressalta.

A meta é conseguir 500 representantes em cada regional, ou seja, de 100 a 120 por sub-regional. “Procuramos relacionar quem não participa do Orçamento Participativo e dos 25 conselhos de políticas públicas da prefeitura. São pessoas que têm representatividade, com participação em fóruns sociais e formadoras de opinião, como padres, pastores, médicos, dentistas, comerciantes. No Hipercentro, provavelmente, teremos que trazer dirigentes de entidades de maior expressão”, disse.

As propostas para o planejamento urbano de BH serão apresentadas durante ciclo de debates. Serão cinco fases, deste mês até março de 2012. De acordo com o plano, o primeiro ciclo será por regional e o segundo por sub-região. No terceiro, a aministração espera que a iniciativa chegue ao nível de propostas mais completas. No quarto ciclo, a prefeitura retorna para informar as suas providências e, no quinto e último ciclo, fará uma conferência, na qual apresentará as sua propostas à população.

As intervenções que serão debatidas farão parte do Plano Estratégico de Belo Horizonte 2030, lançado pela prefeitura no segundo semestre de 2009. O plano aponta 25 indicadores e 40 projetos estruturadores em 12 áreas. Uma das metas propostas é chegar aos 100% de esgoto tratado até 2030. No transporte público, para atingir maior percentual da população, será feito diagnóstico do que a cidade precisará ter de linha de metrô e do investimento necessário em saneamento básico.

A prefeitura informa que já tem algumas estimativas. Para sanar o déficit habitacional em BH, por exemplo, serão necessários R$ 3,6 bilhões, para construir 60 mil unidades. Outros R$ 2 bilhões precisarão ser investidos na urbanização de 13% do território da cidade que foi invadido. Não estão incluídas nessa área vilas e favelas, que representam mais 5%.

Crise

Para a presidente da seção mineira do IAB, a arquiteta e urbanista Cláudia Pires, a inexistência de diálogo entre a administração de Marcio Lacerda e os setores sociais é responsável pela falta de planejamento urbano em BH. “A prova é o imbróglio criado em torno do Mercado do Cruzeiro (comerciantes e moradores rejeitaram a proposta de construir um hotel e outros empreendimentos no local). A sociedade civil implorou para ser ouvida pelo prefeito, mas não conseguiu”, disse. Ela destaca que o caos formado no trânsito poderia ser amenizado caso houvesse mais planejamento. “As obras são feitas sempre na crise. As questões urbanas precisam ser tratadas com planejamento, para melhor aplicação do dinheiro público. A administração municipal vai ganhar dando ouvido a mais pessoas”, afirmou.

O urbanista Roberto Luís de Melo Monte-Mór, professor do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional de Minas Gerais (Cedeplar) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), também defende maior participação popular na administração pública. “Obviamente que apenas isso não vai resolver os problemas de Belo Horizonte. É preciso que seja acompanhado de mais investimentos. Mas aumentar o envolvimento da sociedade é coerente com a linha de planejamento urbano adotada no país. O cidadão tem que ser tratado como sujeito, e não como objeto do planejamento.”

Notícia publicada no Estado de Minas, em 02 de junho de 2011

Link relacionado: Mudanças nas regionais da prefeitura atingem Orçamento Participativo

Um lugar ao sol, de Gabriel Mascaro

“O cineasta Gabriel Mascaro procura radiografar o mundo dos ricos residentes em três capitais – Rio de Janeiro, São Paulo e Recife – através do documentário Um lugar ao sol, no qual registra depoimentos de moradores de coberturas. Logo nas primeiras imagens, que contrastam a opulência dos apartamentos com o anonimato de trabalhadores, sobressai certa abordagem socioeconômica inserida na base do filme.

Mas o diretor evita se impor, pelo menos no plano verbal, ao longo da projeção. Praticamente “só” aparecem os depoimentos dos entrevistados. As falas evidenciam, na maior parte das vezes, alienação: uma comenta sobre o incômodo de ouvir barulho de panelas na cozinha, a outra ressalta a beleza estética da troca de tiros entre comunidades rivais, conforme a panorâmica descortinada do alto de seu apartamento. Há ainda quem procure “justificar” o desejo de viver numa cobertura por meio da espiritualidade. Como assinala uma entrevistada, quem mora numa cobertura fala com Deus mais de perto.

O desejo de se isolar numa bolha silenciosa, desconectada do mundo dos mortais, vem à tona na postura da maior parte dos personagens, mesmo que nem todos se limitem a externar visões fúteis. Fica, em todo caso, a impressão de que o diretor deu corda para os entrevistados se enforcarem, apesar de cada um ser obviamente responsável por seu discurso.”

Crítica transcrita do Jornal do Brasil, publicada em 03 de junho de 2011.

Agradecemos a Sulamita Lino pela dica.

Por que nossas cidades continuam tão precárias?

Não obstante os sucessos da política econômica e as promessas da descentralização e do Estatuto das Cidades, as marcas de um modelo de desenvolvimento urbano excludente e predatório continuam presentes em várias dimensões do processo de urbanização brasileiro.

Raquel Rolnik, professora da FAU-USP e relatora especial da ONU para o direito à moradia adequada, e Jeroen Klink, professor da Universidade Federal do ABC, publicaram o artigo Crescimento econômico e desenvolvimento urbano na edição 89 da Revista Novos Estudos, que discute alguns dos obstáculos que têm incidido sobre a capacidade da rede urbana brasileira de responder ao desafio de ampliar o direito à moradia e à cidade para o conjunto de moradores.

Para baixar o artigo, clique aqui.

 

Postado no Blog da Raquel Rolnik, em 03 de junho de 2011.

Al Jazeera e a “ocupação esportiva” do Brasil

Infraestrutura exigida pelos interesses corporativos mais poderosos do mundo deixam famílias sem teto no Brasil

Brazil’s disappearing favelas

No Chile, foi chamado “O Tijolo”. Era um manifesto econômico de milhares de páginas do ditador Augusto Pinochet, escrito pelos “Chicago Boys” — estudantes chilenos da Universidade de Chicago. Discípulos do professor de economia conservador e neoliberal Milton Friedman, eles imprimiram “O Tijolo” no “outro 11 de setembro”, 11 de setembro de 1973. Enquanto o palácio presidencial era bombarderado, o “companheiro presidente” Salvador Allende era assassinado e o general Pinochet assumia o poder, “O Tijolo” se tornou o compasso econômico de Pinochet. Guiou o país durante as duas décadas do corta e queima das privatizações, despejos e desigualdade — tudo em nome do “desenvolvimento”.

Hoje Pinochet é desprezado e sumiu, mas “O Tijolo” se tornou o manifesto para a maior parte do mundo. Hoje, seus mais ardentes patrocinadores ironicamente usam outra sigla: BRIC. Eles são Brasil, Rússia, Índia e China. Essas ambiciosas nações se estabeleceram como o futuro, não apenas do crescimento econômico global, mas como futuros centros do esporte internacional. Eles podem oferecer duas coisas que os poderes decadentes do Ocidente já não podem: gastos deficitários maciços e uma infraestrutura de estado policial para deslocar, destruir e desaparecer com quem quer que fique no caminho.

Estamos vendo isso de forma particularmente dramática no Brasil. O país vai sediar tanto a Copa do Mundo de 2014 quanto as Olimpíadas de verão de 2016. No século 21, estes eventos esportivos vão requerer mais estádios e hotéis. O país-sede precisa proporcionar um aparato massivo de segurança, uma determinação para esmagar as liberdades civis e o desejo de criar o tipo de “infraestrutura” que estes jogos exigem. Isso significa não apenas estádios, mas estádios novinhos em folha. Isso significa não apenas segurança, mas a mais nova tecnologia antiterrorista. Isso significa não apenas novas formas de transporte para os locais de jogos, mas esconder a pobreza dos que vão e vem das competições. Isso significa gastar bilhões de dólares para criar um playground para o turismo internacional e para os patrocinadores multinacionais.

Todos os dias nas favelas, os bairros que cercam as grandes cidades brasileiras, esses festivais atléticos internacionais fazem reviver os caminhos do “Tijolo”. A Anistia Internacional, as Nações Unidas e mesmo o Comitê Olímpico Internacional — temerosos de danificar sua “marca”, estão demonstrando preocupação. Dá para entender o motivo.

Nesta semana houve uma preocupante série de notícias sobre a derrubada e limpeza de favelas, tudo em nome de “deixar o Brasil pronto para os jogos”. Centenas de famílias da Favela de Metro se viram no meio de detritos, sem lugar para ir depois da demolição, sem remorso, bancada por autoridades brasileiras. Ao demolir as casas antes que as famílias tivessem oportunidade de encontrar novas casas ou serem “recolocadas”, o governo violou flagrantemente os conceitos mais básicos dos direitos humanos.

Como o [jornal britânico] Guardian noticiou, “casas de tijolo aparente foram destruídas por tratores. Ruas ficaram cobertas com uma grossa camada de detritos, lixo e metal retorcido. À noite, viciados em crack se escondem nas casas abandonadas, enchendo os cômodos de garrafas vazias, colchões sujos e cachimbos de crack improvisados em copos de plástico. O cheiro de excremento humano se espalha no ar”.

O Peolpe & Power da Al Jazeera investigou a “pacificação” das favelas do Rio, que acontece em meio a disputas entre gangsters e chefes do tráfico.

O residente de uma favela, Eduardo Freitas, disse que “parece que estamos no Iraque ou na Líbia. Não tenho mais vizinhos. É uma cidade fantasma”.

Freitas não precisa de um mestrado da Universidade de Chicago para entender o que está acontecendo. “A Copa do Mundo vem aí e eles querem esta área. Penso que é desumano”.

A autoridade habitacional do Rio diz que tudo será feito em nome do “desenvolvimento” e, com a renovação da área, está oferecendo aos moradores da favela “dignidade”.

Talvez alguma coisa tenha se perdido na tradução. Ou talvez o conceito burocrático de “dignidade” signifique se tornar sem-teto para que seu bairro se torne um estacionamento para ricos torcedores de futebol. E vem mais “dignidade” por aí. De acordo com Julio Cesar Condaque, um ativista que se opõe à demolição de favelas, “entre agora e 2014, 1,5 milhão de famílias serão removidas de suas casas em todo o Brasil”.

Conversei com Christopher Gaffney, professor-visitante da Universidade Federal Fluminense no Rio de Janeiro e vice-presidente da Associação Nacional dos Torcedores.

“É como a queda no paraíso neoliberal” ele disse. “Nós agora vivemos em cidades planejadas por firmas de relações públicas e governadas por um estado autoritário em conjunção com seus patrocinadores corporativos. Estes eventos são gigantescos cavalos de Tróia para nos deixar sob o choque e espanto da transformação de lugares e pessoas, enquanto se instala um governo paralelo com o uso de dinheiro público para gerar lucros privados. No molde de uma invasão militar, a única forma de ocupar um país de forma bem sucedida é bombardeando o público com informação, se livrando dos indesejáveis e lançando uma campanha de mídia para taxar as vozes alternativas de pessimistas antipatriotas que odeiam o esporte e o ‘progresso’”.

É uma jornada marcante. Pinochet agora é uma memória grotesca, desgraçado universalmente pela morte. Mas “O Tijolo” sobrevive, uma pedra pendurada no pescoço da América Latina. Esperem por uma série de protestos quando se aproximarem os jogos do Rio. E esperem o enfrentamento deles de maneira que vai refletir as mais obscuras tradições políticas da região.

 

Postagem original na Al Jazeera por Dave Zirin*, em 10 de maio de 2011 13:34
Postagem traduzida no blog Vi o mundo em 12 de maio de 2011 às 14:56

*Dave Zirin is the author of “Bad Sports: How Owners are Ruining the Games we Love”. His latest documentary is “Not Just a Game”.

Entre Rios