Um lugar ao sol, de Gabriel Mascaro

“O cineasta Gabriel Mascaro procura radiografar o mundo dos ricos residentes em três capitais – Rio de Janeiro, São Paulo e Recife – através do documentário Um lugar ao sol, no qual registra depoimentos de moradores de coberturas. Logo nas primeiras imagens, que contrastam a opulência dos apartamentos com o anonimato de trabalhadores, sobressai certa abordagem socioeconômica inserida na base do filme.

Mas o diretor evita se impor, pelo menos no plano verbal, ao longo da projeção. Praticamente “só” aparecem os depoimentos dos entrevistados. As falas evidenciam, na maior parte das vezes, alienação: uma comenta sobre o incômodo de ouvir barulho de panelas na cozinha, a outra ressalta a beleza estética da troca de tiros entre comunidades rivais, conforme a panorâmica descortinada do alto de seu apartamento. Há ainda quem procure “justificar” o desejo de viver numa cobertura por meio da espiritualidade. Como assinala uma entrevistada, quem mora numa cobertura fala com Deus mais de perto.

O desejo de se isolar numa bolha silenciosa, desconectada do mundo dos mortais, vem à tona na postura da maior parte dos personagens, mesmo que nem todos se limitem a externar visões fúteis. Fica, em todo caso, a impressão de que o diretor deu corda para os entrevistados se enforcarem, apesar de cada um ser obviamente responsável por seu discurso.”

Crítica transcrita do Jornal do Brasil, publicada em 03 de junho de 2011.

Agradecemos a Sulamita Lino pela dica.

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