Visita a autoconstrutores residentes no bairro Jardim Teresópolis (Betim) – D. Luzia e Sr. Raimundo

Presentes: Denise, Camila Alberoni, Luíza Bastos e Paulinísia

No dia 17 de maio integrantes do Grupo Praxis – UFMG foram à casa de D. Luzia, irmã de D. Luiza (já visitada anteriormente – para ver o relato desta visita, clique aqui).

D. Luzia mora com o marido, Sr. Raimundo (conhecido como Sr. Didi) e o casal tem dois filhos já casados, sendo que um deles mora com a família no pavimento térreo de sua casa. D. Luzia e o Sr. Didi moram no bairro a 21 anos e a 12 anos na casa que estão atualmente. Quando se mudaram para essa casa, haviam dois cômodos no terreno, um quarto e um banheiro. O quarto tinha dimensões aproximadas de 2,0 X 2,5 m e o banheiro de 1,5 X 3,0. Os cômodos eram espacialmente determinados somente pelas paredes, não existia piso e apenas um deles tinha laje. Portanto, assim que se mudaram, tiveram que colocar algumas telhas na tentativa de improvisar uma cobertura e também madeira para forrar o chão.  Algum tempo depois se organizaram para bater a laje de cobertura e, para isso, foi feito um multirão com amigos, vizinhos e familiares.

A família morou nesses dois cômodos por dez anos.  Na rua onde atualmente está a entrada da casa, havia um córrego que recebia esgoto e havia se tornado mais um esgoto a céu aberto. A prefeitura iniciou obras para a canalização do córrego e, com a passagem de equipamentos pesados, ocorreram muitas trincas na casa onde moravam e pedaços da laje começaram a cair dentro de casa, conta D. Luzia.

Fachada frontal da casa de D. Luzia e Sr. Didi - Foto: Luíza Bastos

A partir daí, precisaram construir uma nova casa para poderem morar com a família. Os filhos que já haviam crescido estavam trabalhando, o mais novo inclusive na construção civil. Então, com o conhecimento do filho, começaram a fazer os tubulões para subir os pilares e bater a laje de piso da atual casa da D. Luzia e Sr. Didi, construída no pavimento superior. Durante o processo de construção da estrutura faltaram recursos para a compra de material de construção. A patroa de D. Luzia ajudou financeiramente e a laje foi construída. O dinheiro que sobrou dessa ajuda foi utilizado na compra de tijolos e assim começou a construção das paredes. No entanto, também durante o processo de construção das paredes, a família de D. Luzia já não tinha mais dinheiro para comprar o material que faltava. D. Luzia foi com seus filhos ao Depósito Acre (localizado no próprio bairro Jardim Teresópolis) e ficou sabendo de um financiamento da Caixa Econômica Federal que possibilita o pagamento em 96 meses (programa Poupança Habitacional). A família se interessou pelo financiamento e organizou todos documentos necessários para conseguir o recurso. Durante esse período, a família de D. Luzia estava morando de favor.

Aprovado o financiamento, começaram a pensar na construção da casa. A própria família definiu a espacialidade da casa, como seriam os cômodos e suas dimensões. A única vontade de D. Luzia era que tivesse uma  sala integrada à cozinha para que ela pudesse conversar com suas amigas enquanto cozinhava ou arrumava a cozinha. Para ter a aprovação da Prefeitura de Betim, a família recebeu a visita de um engenheiro da prefeitura que fez medições da estrutura e deu orientações sobre os afastamentos que deveriam respeitar (1,5 m em relação à divisa com os vizinhos e frente do lote).  A família fez o cálculo do material necessário para a obra e foi ao depósito escolher e comprar tudo o que precisava. O financiamento do material foi feito em prestações fixas e foi quitado sem problemas.

Sala conjugada com a cozinha na casa de D. Luzia - Foto: Luíza Bastos

A família construiu a casa no segundo pavimento por dois motivos: restava ainda entulho dos dois cômodos anteriormente existentes e a água das chuvas que corria na rua entrava para a casa no nível térreo. O entulho restante, juntamente com terra, foram então usados para elevação do nível térreo, para evitar que a água das chuvas continuasse a inundar o terreno.

A casa é bem iluminada e ventilada, e tem seus cômodos bem espacializados. No entanto, alguns problemas foram identificados pelos moradores, como a infiltração na laje e a estrutura frágil da cobertura.  A infiltração foi parcialmente resolvida com a colocação do telhado. No entanto, este ainda precisa de reforços pois algumas telhas ainda estão soltas e podem acabar deslocando-se em dias de vento ou chuva forte. Esta área é utilizada como área de serviço e a intenção dos moradores é fazer um terraço destinado a reuniões entre familiares e amigos.

Detalhe da infiltração da laje do terraço - Foto: Luíza Bastos

Detalhe da estrutura do telhado - Foto: Luíza Bastos

O terreno foi comprado quando D. Luzia recebeu um dinheiro de indenização da empresa que trabalhava antigamente. A moradora possui um recibo da compra, o qual foi utilizado na documentação enviada à Caixa Econômica Federal para concessão do financiamento e também para regularização na Secretaria de Habitação. Segundo ela, a parte mais difícil de todo o processo de construção de uma casa é a compra do material, já que isso demanda recursos imediatos.

Há seis anos, o filho mais novo casou e construiu uma casa para sua nova família no nível térreo. O patrão do filho também o ajudou na compra do material com um financiamento particular. Todas as construções foram feitas com mão de obra familiar ou de amigos. Atualmente, os dois filhos estão casados e só moram D. Luzia e Sr. Didi na casa de cima. A família paga por serviços como rede de esgoto e energia mas tem isenção de IPTU pela Prefeitura de Betim.

No fim da conversa, ficou combinado que assim que D. Luzia e Sr. Didi forem fazer qualquer intervenção construtiva na casa (construir o terraço ou trabalhar na cobertura), irão entrar em contato com o Grupo Praxis para trocar idéias e pensar soluções mais adequadas.

Visita e entrevista a autoconstrutores residentes no Barreiro (Vila Pinho) – D. Luiza

Presentes: Camila Bastos, Paulinisia e Denise (UFMG), D. Luiza e sua filha Maria Aparecida

O processo de construção da casa deu-se em etapas, conforme croqui abaixo, em razão das mudanças ocorridas ao longo do tempo, entre elas o nascimento de sua filha. O fato dos cômodos terem sido construídos em épocas diferentes e por pedreiros diferentes, ainda que escolhidos por referência mas que não seguiram as solicitações e orientações de Luiza, diversos problemas na estrutura, dimensionamento e articulação da casa ocorreram. Talvez o mais importante seja a própria insatisfação da proprietária.

Conformação cômodos da casa e fases de construção

Visando a minoração desses problemas mas também complementação de renda através do aluguel de uma área a ser reformada no pavimento inferior (acesso pela rampa/corredor lateral), D. Luiza quer participar do projeto Diálogos. Sua ideia é demolir o núcleo inicial de sua casa (fases 1 e 2), aterrando-as para minimizar a diferença de nível entre a copa, cozinha e os quartos, por meio de uma rampa de acesso entre a rua e o novo pavimento. Discutimos então a possibilidade de uma inclinação menor da rampa e como reaproveitar os resíduos gerados pelas demolições que acompanharão o processo.

Vista da Copa onde observa-se uma escada que não leva a outro pavimento.

Vista da Copa onde uma viga foi cortada para abertura da porta de acesso ao nível 3

Os materiais de construção tradicionais foram pagos sempre com a renda provinda do INSS e adquiridos em depósito de material próximo. D. Luiza relatou que acha o “projeto importantíssimo, mas para quem entende ele” e, por isso, mostrou interesse no compartilhamento de informações proposto pelo grupo. Novos contatos serão estabelecidos para a continuação do trabalho.

Localização do Depósito Anacleto Portelote e Casa D.Luiza