“Produzir casas ou Construir Cidades: desafios para um novo Brasil urbano”

Livro resultado de pesquisa realizada pelo LABHAB-FAUUSP sobre parâmetros de qualidade e análise da produção de mercado do Minha Casa Minha Vida.

 

Para fazer download do livro, clique aqui.

Palestra com arquitetos do escritório equatoriano AL BORDE

Palestra com os arquitetos Pascual Gangotena e Esteban Benavides, do escritório equatoriano AL BORDE.

Data: 14/05, às 19 horas
Local: Auditório da Escola de Arquitetura da UFMG
Organização: Professora Natacha Rena

Apoio: Grupo PRAXIS/EA UFMG

Cartilha sobre os Planos Diretores Regionais

 

As Audiências Públicas dos Planos Diretores de Belo Horizonte acontecerão nos dias:
07/05/2012 – Regionais Pampulha e Venda Nova
Local: Auditório 1 da Faculdade de Ciências Econômicas – FACE/UFMG (Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha)
Horário: 18h30 às 21h15
08/05/2012 – Regional Norte
Local: Auditório Regional Norte (Rua Pastor Muryllo Cassete, 85 – São Bernardo)
Horário: 18h30 às 21h15
10/05/2012 – Regionais Oeste, Noroeste e Barreiro
Local: Associação Médica (Avenida João Pinheiro, 161 – Centro)
Horário: 18h30 às 21h15
18/05/2012 – Regionais Centro-Sul, Leste e Nordeste
Local: Associação Médica (Avenida João Pinheiro, 161 – Centro)
Horário: 18h30 às 21h15

Caderno Didático: Política Habitacional e o Direito à Moradia Digna

Fonte: Observatório das Metrópoles

Caderno Didático: Política Habitacional e o Direito à Moradia Digna

O Observatório das Metrópoles, em parceria com a ONG Ação Urbana e a Fundação Bento Rubião e o apoio da Pastoral das Favelas, lança o Caderno Didático “Política Habitacional e o Direito à Moradia Digna”, resultado do Curso de Formação Políticas Públicas e Direito à Cidade, realizado pela primeira vez em 2011 com o objetivo de discutir o Plano Local de Habitação de Interesse Social (PLHIS/RJ). Neste número do Caderno estão reunidos artigos que subsidiam o debate sobre PLHIS, a partir dos desafios colocados para uma gestão da cidade baseada nos princípios da reforma urbana.

O Programa Interdisciplinar de Formação de Agentes Sociais e Conselheiros Municipais é desenvolvido pelo Observatório das Metrópoles, desde 1999, sempre em parceria com organizações não governamentais, prefeituras e movimentos populares. A sua origem está diretamente ligada ao engajamento de professores e educadores populares comprometidos com a reforma urbana e a ampliação dos canais de participação e controle social sobre as políticas e programas públicos.

O Programa desenvolve-se, hoje, em várias cidades do Brasil, através da Rede Observatório das Metrópoles e parceiros, privilegiando o enfoque sobre as políticas de desenvolvimento urbano e seus espaços institucionais de participação, tendo como ponto de partida o conceito do Direito à Cidade. Fundado na concepção paulofreiriana de educação permanente, os cursos de formação são espaços de trocas entre educandos e educadores, que têm como referência a construção e o monitoramento de políticas e programas públicos que revertam as profundas desigualdades sociais que marcam as cidades e a sociedade brasileira.

Dessa forma, o Programa Interdisciplinar busca trazer elementos que qualifiquem a atuação de agentes sociais, lideranças e conselheiros nas esferas públicas de gestão (especialmente, nos conselhos de gestão de políticas públicas), bem como em processos participativos de planejamento das cidades.  Com estes objetivos, no Estado do Rio de Janeiro vêm sendo realizados, regularmente, desde 1999, especialmente nos municípios da Baixada Fluminense, os cursos de capacitação e formação para conselheiros municipais, cujo foco central é o debate sobre Democracia, Participação Política e o Direito à Cidade.

Paralelamente, e de forma integrada, diferentes processos de formação têm tido lugar abordando temáticas como as do Orçamento Municipal, dos Planos Diretores, dos Planos de Saneamento e de Habitação de Interesse Social. Estes últimos ganharam destaque nos últimos anos, considerando os avanços ocorridos com a aprovação da Lei 11.124, em 2005, que estabeleceu como obrigatória para a adesão de estados e municípios ao Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social, a elaboração dos Planos Locais de Habitação de Interesse Social, o PLHIS.

Assim, em sintonia com a demanda pela qualificação de agentes sociais, lideranças e conselheiros para a discussão dos planos locais de habitação de interesse social, o Observatório das Metrópoles – IPPUR/UFRJ, em parceria com a Fundação Bento Rubião e a Ação Urbana e o fundamental apoio da Pastoral de Favelas, realizou, em 2011, pela primeira vez na cidade do Rio de Janeiro, um curso de formação visando o processo de discussão do Plano Local de Habitação de Interesse Social, origem deste caderno didático. O processo de elaboração do PLHIS/RJ vem sendo conduzido pela Fundação Bento Rubião, instituição com reconhecida experiência na temática da moradia no Rio de Janeiro e compromisso com a reforma urbana e a justiça social.

O curso visa fornecer aos participantes instrumental para (1) a compreensão mais ampla dos fatores geradores das desigualdades de acesso à moradia digna, com destaque para os programas habitacionais e a legislação urbana vigentes, (2) a leitura política dos interesses em disputa na cidade e das barreiras à implementação dos instrumentos de democratização do acesso à moradia e à cidade e (3) a formulação, pelos movimentos populares, de políticas e programas habitacionais que respondam às necessidades e desejos dos segmentos sociais de baixa renda, e a definição de estratégias para aprovação e implementação dessas políticas.

Neste caderno estão reunidos artigos que subsidiam o debate sobre o Plano Local de Habitação de Interesse Social, em processo de elaboração. Os textos estão organizados em módulos. O primeiro módulo “Direito à cidade e à moradia digna” introduz o debate sobre as cidades e os desafios colocados para uma gestão urbana baseada nos princípios da reforma urbana. O segundo módulo, “Política habitacional: financiamentos e programas”, aborda os principais programas de habitação de interesse social. No terceiro: “Políticas públicas urbanas e política habitacional” discute-se a necessidade de integrar a política habitacional com as demais políticas urbanas de saneamento ambiental, mobilidade urbana e, especialmente, com a política fundiária e os instrumentos previstos no Estatuto da Cidade que assegurem terra urbanizada para a habitação popular. No último módulo “Política habitacional: limites e possibilidades”, a partir de um breve diagnóstico da cidade do Rio de Janeiro, são apontados limites e desafios para o PLHIS/RJ e discutidas as soluções que vêm sendo gestadas por associações e cooperativas populares, na direção da produção social da moradia de forma autogestionária, como uma alternativa à mercantilização da moradia e das cidades.

Espera-se contribuir com este caderno para o debate sobre os Planos Locais de Habitação de Interesse Social e o fortalecimento da atuação de associações comunitárias, fóruns e redes para a discussão, elaboração, avaliação e controle de políticas públicas, na perspectiva da garantia do direito à moradia digna e à cidade. Por último, espera-se que este possa contribuir, ainda que de forma singela, para o exercício sistemático e permanente de reflexão sobre as questões que se referem à relação entre educação, cidade e democracia.

Para fazer download do “Caderno Didático: Política Habitacional e o Direito à Moradia Digna”, clique aqui

Este texto foi originalmente publicado em: Publicações: Observatório das Metrópoles em 02/05/2012

PRAXIS Debate: Participação

Projeto de Lei sobre Uso do Solo Metropolitano na RMBH

O Projeto de Lei 3.078/2012 dispõe sobre a gestão unificada da função pública de interesse comum de uso do solo metropolitano no Estado de Minas Gerais e dá outras providências.

O texto original do Projeto de Lei 3.078/2012 está disponível no site da Assembléia Legislativa de Minas Gerais

Para ler o texto na íntegra, clique aqui.


São Paulo vai testar modelo de NY de aluguel de imóvel para baixa renda

Por: Letícia Macedo

Fonte: G1 SP

Terreno Público fica na Barra Funda e será cedido para construtora. 150 de 600 apartamentos serão cedidos para quem ganha até 6 salários.

Terreno na Barra Funda onde deve ser construído projeto-piloto (Foto: Letícia Macedo/G1)

A Prefeitura de São Paulo vai colocar em prática um projeto-piloto para a construção de apartamentos para aluguel direcionados à população com renda de até seis salários mínimos. Inspirado em Nova York, ela planeja ceder um terreno na região da Barra Funda, Zona Oeste de São Paulo, para que a iniciativa privada construa 600 apartamentos, sendo que 150 deles devem ser alugados por famílias de baixo poder aquisitivo. Ainda não há prazo definido para a licitação do projeto.

Após conversas entre as secretarias da Habitação e do Planejamento Urbano e autoridades responsáveis pelas mesmas pastas em Nova York, a Prefeitura organizou um seminário e apresentou a ideia para a iniciativa privada. A Brookfield Incorporações elaborou uma “Proposta de Manifestação de Interesse”, com o objetivo de desenvolver o projeto de dois edifícios no terreno de 9,4 mil metros quadrados. Ele fica na esquina das ruas Cônego Vicente Miguel Marino e Cruzeiro. No local, funcionava uma garagem de ônibus.

O secretário-adjunto de planejamento urbano, Domingos Pires, diz que o intuito da administração municipal é promover o adensamento populacional da região, que além de estar próxima ao Centro, é bem servida pelo transporte público, porque fica perto das estações Barra Funda e Marechal Deodoro. “O objetivo é induzir uma ocupação balanceada da região da Barra Funda, que permita que as pessoas morem próximo ao emprego, tenham qualidade de vida, além de serviços disponíveis como educação, saúde e lazer”, afirmou.

A Prefeitura aceitou a proposta da Brookfield, que passou a elaborar o projeto de duas torres, que além das 600 apartamentos, terão um térreo comercial. O objetivo é que os habitantes não tenham a necessidade de pegar o carro para ter acesso a serviços e bens de consumo. A expectativa é que o projeto seja entregue para a Prefeitura nas próximas semanas.

 

Simulação computadorizada mostra como é a fachada do projeto (Foto: Divulgação/SMDU)

Após avaliar o projeto, a Prefeitura deve abrir uma licitação para que empresas privadas possam concorrer para fazer a obra. Os gastos na elaboração do projeto foram custeados até o momento pela Brookfield. A empresa poderá participar da licitação e, caso não seja a vencedora, deve ser ressarcida pelo vencedor da concorrência pelos custos do planejamento.

Localização do terreno. (Fonte: Google Maps - adaptado por G1 SP)

O projeto prevê que a vencedora da licitação assuma os custos da construção e recupere o valor investido na obra com a venda dos espaços para os estabelecimentos comerciais, que serão negociados a preço de mercado, e dos apartamentos para famílias que possuam renda familiar superior a seis salários mínimos e inferior a 16.

Ao contrário de empreendimentos nos quais o papel da incorporadora termina com a venda dos apartamentos, caberá à vencedora da licitação constituir um fundo que gerenciará os 150 apartamentos que serão alugados para famílias que tenham renda de até seis salários mínimos e sejam indicadas pela Secretaria da Habitação.

Fundo de gestão
O diretor de incorporações da Brookfield, José de Albuquerque, afirma que o fundo terá a responsabilidade de fazer a gestão patrimonial dos apartamentos para impedir que os imóveis se degradem por falta de manutenção. Segundo a Prefeitura, ele deverá ainda contratar serviços como assistência social e psicológica, que serão utilizados eventualmente pelos moradores dos apartamentos da Prefeitura.

Os custos de aluguel e condomínio não poderão exceder 25% das rendas das famílias cadastradas pela Secretaria da Habitação. “O fundo receberá um aporte inicial da empresa responsável pela construção que funcionará como uma garantia de adimplência para os apartamentos da Prefeitura. Após cinco anos, o gerenciamento do fundo será transferido para a Prefeitura”, afirma Albuquerque.

De acordo com a administração municipal, o novo modelo de aluguel subsidiado não tem o objetivo de substituir o atual modelo no qual as unidades habitacionais são construídas e financiadas a longo prazo. “É só uma primeira semente. Temos um déficit de um milhão de unidades até 2024. Para conseguir fazer tudo isso, vai ser preciso empenhar a CDHU, o setor privado, além de parcerias público-privadas”, disse o secretário-adjunto.

Na opinião do diretor de incorporações da Brookfield, a iniciativa é inovadora e positiva. “É uma maneira inteligente de fazer terrenos localizados em Zonas Especiais de Interesse Social [Zeis] virarem negócios. Atualmente, eles não atraem investidores, porque são muito caros.” Ele destaca ainda que o projeto permitirá à Prefeitura valorizar a área que não vinha sendo utilizada. “O patrimônio da Prefeitura aumentará três vezes de valor. No lugar de uma área vazia, ela terá apartamentos que têm valor de mercado”, afirma Albuquerque.

Privatização
O coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), Guilherme Boulos, discorda. Embora admita não conhecer em detalhes o projeto-piloto da Prefeitura, ele considera que se trata “de uma forma de privatização da política habitacional do município”.

Ainda segundo Boulos, a proposta de que os moradores paguem um aluguel não é o principal problema da proposta. “Não ter o título de propriedade [do imóvel] não é o problema. Nossa luta é para resolver o problema da moradia e o principal obstáculo para a construção de moradias populares é a terra. Se a Prefeitura doa um terreno para uma incorporadora ou construtora, lucrar é um disparate”, declarou.

 

No terreno funcionava uma garagem de ônibus (Foto: Letícia Macedo/G1)

Para ver mais fotos da região e da simulação, clique aqui.

Fonte: G1 SP

 

Moradia popular no lixo: imagens de um Brasil que precisamos encarar

Por: Raquel Rolnik

Fonte: Blog da Raquel Rolnik

Recebi ontem estas fotos de um leitor que, passando por uma estrada no Maranhão, deparou-se com este panorama. Trata-se de um conjunto habitacional do programa Minha Casa Minha Vida, construído ao lado de um lixão, na cidade de Santa Luzia, no interior do Estado, que, por sinal, é um dos que mais teve projetos construídos pelo programa. A lógica de produção de casas no terreno mais barato possível leva esses empreendimentos para as terras mais desvalorizadas e, em muitos casos, perto de áreas contaminadas como esta. Com certeza, esse não é o único caso.

As imagens falam por si, mas não custa lembrar: o processo de produção de habitação que corre a todo vapor em nosso país está completamente desvinculado de um processo de qualificação da produção e gestão das cidades. Falta política urbana e falta gestão urbana. Lixões como este não deveriam mais existir, muito menos conjuntos habitacionais no meio do nada, junto a áreas contaminadas. De um lado, temos municípios precários, com pouquíssima ou nula capacidade de planejamento e gestão, e, de outro, um programa federal de produção de moradias que em nada ajuda a mudar essa situação.

Estas são, no fim das contas, imagens da precariedade da política urbana no Brasil em um momento em que temos recursos para enfrentar o problema do déficit de urbanidade.

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* Texto originalmente publicado no Yahoo! Blogs 

Fonte: Blog da Raquel Rolnik

Da crise da mobilidade ao apagão urbano

As metrópoles brasileiras têm enfrentado nos últimos anos uma crise de mobilidade urbana, com grandes congestionamentos, aumento do tempo de locomoção e perdas econômicas. Este artigo do INCT Observatório das Metrópoles mostra que esse problema é resultado, sobretudo, da opção pelo transporte individual em detrimento das formas coletivas e da falta de planejamento do poder público. A realidade na maioria das nossas 15 metrópoles é que o número de automóveis aumentou em 66% entre 2001 e 2010, enquanto a população cresceu por volta de 10,7%.

Da crise da mobilidade ao apagão urbano
Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro
Coordenador do Observatório das Metrópoles – IPPUR/UFRJ
Juciano Martins Rodrigues
Pesquisador do Observatório das Metrópoles – IPPUR/UFRJ

Dados recentes revelam que, na maioria das grandes metrópoles brasileiras, um maior número de pessoas leva mais tempo em seus deslocamentos cotidianos. Tem se tornado um martírio enfrentar longas distâncias, engarrafamentos e as constantes panes do sistema público de transporte. Uma verdadeira via-crúcis. Na região metropolitana de Belo Horizonte, por exemplo, o percentual de pessoas que levavam mais de uma hora no trajeto casa trabalho passou de 13,5%, em 2001, para 16,5%, em 2008. Em São Paulo, o recorde de congestionamento, que foi batido por duas vezes no mesmo dia em 2009, chegou a 294 km. Para aqueles que utilizam o transporte público, entre todas essas dificuldades, soma-se ainda o alto preço das tarifas, complicador maior no caso de mercados de trabalhos organizados na escala metropolitana e que exigem deslocamentos cada vez mais distantes, baldeações e trocas intermunicipais. A situação é tão grave que nos permite falar em uma crise da mobilidade. Crise resultante, sobretudo, da opção pelo modo de transporte individual em detrimento das formas coletivas de deslocamento.

Fonte: Elaborado pelo Observatório das Metrópoles com dados do DENATRAN/2010

Ao mesmo tempo, tem ocorrido no Brasil, nos últimos anos, um expressivo aumento no número de automóveis. O ritmo de crescimento dos carros supera o da população na maioria das 15 metrópoles brasileiras, onde a população cresceu por volta de 10,7% e o número de automóveis aumentou em 66% entre 2001 e 2010, resultado de um aumento em torno de 920 mil carros a cada ano.

Fonte: Elaborado pelo Observatório das Metrópoles com dados do DENATRAN/2010

Nas metrópoles temos hoje 3,3 habitantes para cada veículo de passeio, o que corresponde aproximadamente a um veículo para cada domicílio. Algumas delas, porém, apresentam o índice de habitantes/veículos ainda menor. Como são os casos de Curitiba, com 2,2 hab/veiculo, Campinas com 2,3 hab/veículo, Florianópolis e São Paulo, com 2,5 hab/veículo cada uma. Outras metrópoles, sentindo o reflexo do crescimento expressivo no número de automóveis, apresentam o índice bem próximo a essas já mencionadas. Como são os casos de Belo Horizonte, Brasília e Goiânia. Na metrópole mineira o índice de habitantes por veículo caiu de 5,2 para 3,1 entre 2001 e 2010, resultante de um aumento de 88,5% do número de automóveis. Em Brasília, considerando sua região de desenvolvimento integrado, no mesmo período esse aumento foi de 86,6%, enquanto sua população aumento em 20,4%, com isso seu índice de hab/veículo passa de 4,7 para 3,2. Em Goiânia, onde o aumento no número de veículos foi de 81,5%, o índice passou de 4,4 para 3,0 hab/veículo.

Elaborado pelo Observatório das Metrópoles com dados do DENATRAN/2010

Sabemos que a periferia das grandes metrópoles tem crescido mais do que suas áreas centrais, tendência que aponta para a constituição de um espaço urbano cada vez mais espraiado, implicando em crescentes custos e problemas logísticos para a provisão de serviços públicos de infraestrutura essenciais à vida em cidade. Perde-se também as principais vantagens de uma cidade compacta, entre elas a baixa necessidade de viagens de carro, que, por sua vez, reduz a emissão de combustível. Reduz-se o apoio aos transportes públicos, as viagens à pé e de bicicleta e, ainda, favorece o aumento das distâncias percorridas entre as residências e os locais de trabalho. Por outro lado, torna-se difícil acreditar que agências reguladoras e empresas de transporte levem o tamanho e a estrutura da cidade em consideração quando se planeja o transporte.

Estamos repetindo nesta fase do crescimento econômico brasileiro os mesmos erros cometidos desde que iniciamos, na década de 1950, a industrialização como motor de desenvolvimento: a omissão da ação planejadora do Estado em seus vários níveis de governo. Subordinamos as grandes cidades às necessidades de produção e do consumo de um bem que desencadeia processos letais da vida urbana, como bem mostrou Jane Jacobs em seu famoso livro Morte e Vida das Grandes Cidades. Quando há ações de governo, são intervenções que desconsideram a cidade em sua complexidade e seu tamanho, limitando-se a projetos e abrindo mão da função do sistema de mobilidade urbana como parte da estrutura da cidade. Nas modalidades de gestão por projeto do solo urbano, as cidades como máquinas de crescimento a serviço dos novos e antigos interesses econômicos e políticos alimentados pela acumulação urbana. No caso da mobilidade, a falta de planejamento se traduz na inexistência de bases de dados confiáveis e atualizadas sobre os fluxos de deslocamentos de pessoas e mercadorias – as chamadas pesquisas origem/destino, ferramenta fundamental de planejamento urbano.

O problema da mobilidade urbana coloca a sociedade diante de um dilema histórico. Para sustentar a trajetória virtuosa em que nos encontramos de crescimento econômico com expansão dos empregos formais, distribuição da renda com a incorporação de amplos segmentos da população historicamente marginalizados ao mercado de bens modernos – entre eles, o automóvel -, teremos que optar por realizar uma Reforma Urbana cuja realização eventualmente pode implicar na reorientação da direção e do ritmo desta trajetória de mudança. Não realizá-la, por outro lado, certamente significará que encontraremos em poucos anos o obstáculo do apagão urbano, cujas consequências serão maiores e mais graves que a diminuição do ritmo de crescimento: a consolidação exacerbada do modelo urbano brasileiro de mal-estar coletivo, em razão do aprofundamento da degradação social, urbanística e ambiental das metrópoles. Na verdade representa um limite efetivo a esse crescimento na medida em que surgem sinais da perda de eficiência econômica das cidades, a resposta tem sido a realização de projetos rodoviários que submetem ainda mais a mobilidade urbana da autolocomoção das pessoas e das coisas. Se os congestionamentos aumentam, é desencadeada a construção de “rodos-anéis” em torno das cidades, cujo resultado é consolidar o irracional modelo urbano brasileiro. As vultosas obras rodoviárias fazem a felicidade real das empresas de obras públicas e das montadoras de automóveis. Também da coalisão de interesses que comanda a política macroeconômica, pois é mais um veículo para tudo acelerar e sacrificar em nome da manutenção de elevadas taxas de crescimento. A não realização da imperiosa e ainda possível Reforma Urbana neste momento, justificada pela infundada crença que o crescimento econômico ira resolver automaticamente os gargalos do apagão urbano, poderá impor pesadas perdas estruturais da capacidade produtiva das cidades suportando este crescimento.

Elaborado pelo Observatório das Metrópoles com dados do DENATRAN/2010

Mais do que a perda de eficiência econômica, o colapso da mobilidade no Brasil provoca também limites a festejada diminuição das desigualdades sociais. A acessibilidade urbana precária assegurada pelos meios de transportes coletivos e públicos ineficientes gera efeitos contrários aos ganhos de renda obtidos pelos trabalhadores pelo aquecimento da demanda pelo emprego: na metrópole do Rio de Janeiro, ao compararmos as rendas médias de trabalhadores semelhantes em termos de escolaridade, cor, sexo e tipo de ocupação, mas moradores em áreas com fortes diferenças de mobilidade urbana, a diferença pode chegar a 22,8%! A razão está no fato de que, nesta e nas outras metrópoles brasileiras, há uma forte concentração de oferta de trabalho nas áreas centrais, ao mesmo tempo em que observamos o crescimento da população moradora nas periferias. A disjunção entre espaços do emprego e da moradia é, sem dúvida nenhuma, incentivada e agravada pela autolocomoção. Outra faceta deste problema é o crescente tempo despendido pelos moradores das metrópoles em seus deslocamentos diários, fruto da desregulação e abandono do sistema de transportes coletivos e públicos. Ademais, a difusão dos assim chamados “transportes alternativos”, como vans e moto-táxis, nada mais é que a outra face da capitulação das autoridades públicas ao modelo urbano resultante da mobilidade fundada na autolocomoção.

Portanto, a manutenção da trajetória virtuosa de crescimento que entramos depende da capacidade da sociedade em optar pelos custos imediatos da mudança de modelo urbano brasileiro e, consequentemente, de construir um projeto de reforma das nossas cidades. A transformação do padrão de mobilidade urbana é, sem dúvida, um dos fronts mais importante da luta por este projeto. Teremos, por exemplo, capacidade e coragem de aceitar a instituição de pedágios nas áreas centrais das metrópoles? Estaremos dispostos a empreender ações contra a realização das vultosas e ineficientes obras de infraestrutura que incentivam a autolocomoção nas metrópoles?

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* Uma versão deste artigo foi publicada no Caderno Pensar, jornal O Estado de Minas, no dia 12 de junho de 2011

Fonte: Observatório das Metrópoles

Seminário Nacional sobre a Política de Desenvolvimento Urbano e os Planos Diretores Participativos

O MINISTÉRIO DAS CIDADES, por meio da Secretaria Nacional de Acessibilidade e Programas Urbanos – SNAPU, juntamente com o Governo do Estado de Sergipe, a Prefeitura Municipal de Aracaju e a  Câmara Municipal de Vereadores de Aracaju, com o apoio da Universidade Federal de Sergipe, Universidade Tiradentes e a SEGRASE – Serviços Gráficos de Sergipe, realizará, nos dias 12 e 13 de março de 2012, o  Seminário Nacional sobre a Política de Desenvolvimento Urbano e os Planos Diretores Participativos.

Mais informações podem ser obtidas em: www.cidades.gov.br/snpd

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