Workshop AL BORDE na Universidade FUMEC

O Workshop com o grupo AL BORDE, de Quito, Equador, foi realizado com alunos da Universidade FUMEC e bolsistas do projeto Diálogos/EA-UFMG em parceria com a Universidade FUMEC e com a Escola Estadual José Mendes Júnior, localizada no Aglomerado da Serra, Vila Cafezal. A proposta do Workshop foi uma intervenção, que deveria ser realizada no prazo de uma semana, em uma área residual encontrada nos fundos do terreno da escola, que, apesar de ser um local de lazer e brincadeiras, é considerada insegura e mal utilizada.

Fonte: googlemaps

O Workshop começou com uma visita do grupo AL BORDE e alunos da FUMEC à Escola Estadual. Nesse primeiro momento, os alunos deveriam andar pela escola sem uma visão analítica e propositiva, mas apenas percebendo o lugar e registrando o máximo de informação possível sobre o que lhes chamasse mais atenção. Muitos conversaram com estudantes da escola, funcionários e professores, outros dedicaram sua percepção ao espaço físico e seu registro.

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No segundo dia, as informações coletadas na escola por cada aluno foram apresentadas aos participantes do Workshop. Haviam muitos relatos dos usuários, bem como impressões e registros dos participantes; a partir daí, teve início um debate sobre o que seria mais problemático naquele lugar e como interferir na questão levantada, com o intuito de alcançar alguma mudança / melhoria. O debate girou em torno da infraestrutura existente na escola: como o mobiliário para os alunos, lixeiras, equipamentos da cantina e salas de aula;  a rotina dos alunos: horário de início e término das aulas, horários dos intervalos, disciplinas preferidas e o que mais gostam em toda a escola. Além disso, também discutiu-se a relação da comunidade da escola com a população que vive no entorno. Tal relação se dá a partir da quadra existente na escola e seu uso compartilhado. Foi levantada a problemática da violência dentro da escola, devido ao mal uso da quadra – uso de drogas, sexo, disputa de gangues – e a transgressão do alto muro que delimita a escola – frequentemente pessoas pulam o muro para se esconder dentro dos limites da escola ou usá-la nos finais de semana. A área residual dos fundos da escola – incialmente indicada como foco de trabalho – foi observada como local de muitas brincadeiras dos alunos, apesar de não ser ocupada com equipamentos de lazer ou permanência. Essa área também foi identificada como principal foco das transgressões, feitas pelos próprios alunos ou traficantes.

A partir dessas discussões, os participantes do workshop foram divididos em pequenos grupos e deveriam formular uma frase síntese para a discussão precedente.

Algumas das frases apresentadas:

-       Necessidade de integração entre a comunidade de a escola;

-       Simultaneidade de aparente opostos;

-       A falta de identificação gera o descaso;

As discussões seguiram e cada vez ficou mais evidente – a partir da percepção dos participantes do workshop – que o objeto de investigação girava em torno da segregação entre a Escola Estadual e a comunidade da Vila,  principalmente através do alto muro que separa o território da escola do seu entorno imediato. O muro ganhou destaque como figura catalizadora de conflitos e contradições, que representa segurança e ao mesmo tempo possibilita violações.

Identificado o muro como objeto de intervenção, foi proposto que os participantes elaborassem estratégias de comunicação e interação entre interior e exterior, com o intuito de diluir a territorialidade e incentivar o contato entre os grupos – comunidade da escola e entorno. Foram feitas diversas propostas de caráter lúdico, como telefone sem fio, bola amarrada ao muro, gangorra. Com a inserção desses objetos e brinquedos infantis no muro, seria possível o contato entre um e outro lado. Também foi pensada a possibilidade de aberturas em alguns trechos do muro para a inserção de vidro ou acrílico colorido, possibilitando interfaces entre os dois lados.

Feito isso, a FUMEC e os participantes do workshop receberam alguns alunos e o professor Wilton da Escola Estadual para apresentarem suas ideias para intervenção no muro e ouvir a opinião e expectativa da comunidade da Escola. Esse contato foi a primeira crise vivenciada pelo grupo sobre o fazer arquitetura e o se apropriar do espaço. Os alunos, principais usuários da escola, não aprovaram praticamente nenhuma das intervenções propostas pelos estudantes de arquitetura, participantes do workshop. Disseram que não desejam contato com o exterior da escola, não querem ser observados e que os equipamentos inseridos no muro seriam muito rapidamente destruídos. Eles apresentaram sua demanda: melhorar a infraestrutura interna da escola, como bancos para se sentaram nos intervalos, mesas com jogos e equipamentos de lazer.

Neste momento, ficou clara a distância entre a arquitetura pensada e interpretada por arquitetos e as relações sócio-espaciais reais – a dinâmica de vida e uso de quem de fato se apropria do espaço e a diferença da relação real entre sujeitos e a relação ideal imaginada por arquitetos. A partir daí,  após o contato com os usuários o grupo percebeu a complexidade de um processo de produção espacial de fato integrativo. Os alunos presentes não aprovaram as proposições, mas estes representam um pequena parcela da escola. E os outros alunos? Os funcionários, professores, a comunidade do entorno? Como realizar esse processo participativo?

A partir dessa dificuldade e do curto prazo para o workshop, o grupo decidiu não mais propor algo construtivo nos fundos da escola, mas a problematização daquela questão que para o grupo foi a mais primordial: a figura do muro como barreira e  como gerador da falsa sensação de segurança. A ideia foi de produção de um material que seria apresentado à comunidade, como instrumento provocador de uma discussão sobre o muro. Esse muro realmente gera segurança? Uma vez que independente dele, os alunos o pulam e fogem da aula, os traficantes  invadem a escola para se esconder da polícia, a quadra é constantemente invadida, entre outras situações recorrentes.

Para elaboração do material, os participantes foram divididos em diferentes grupos. O primeiro buscaria situações análogas sobre o muro, sensação de segurança e aumento de segregação e casos onde a eliminação da barreira possibilitou relações mais harmônicas. O segundo grupo ficou responsável por buscar fatos, relação entre presença de muro e contravenções, e espaços abertos e apropriação coletiva, sugerindo diretamente diminuição de transgressões, pela presença dos olhos da rua. O terceiro grupo voltou à Escola Estadual para gravar entrevistas e depoimentos com a comunidade da escola e do entorno, com o objetivo de identificar a opinião dos usuários sobre a presença do muro.

No final do quarto dia foram agrupadas todas as informações coletadas pelos grupos, mas o curto tempo para a finalização do workshop e a complexidade do objetivo, impossibilitaram a elaboração da apresentação para a comunidade. O material coletado ficará disponível para as próximas atividades da FUMEC realizadas na Escola Estadual.

O fechamento do workshop aconteceu como uma discussão dos participantes aberta à Universidade FUMEC, quando cada um falou sobre sua experiência de trabalho no grupo e aprendizado ao longo da semana.

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